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sábado, 27 de fevereiro de 2016

A FALTA

A saudade, tal qual um sonho torpe
Inerte e desconhecido
Bem como a morte de Orfeu
O espelho que liga mundos de Cocteau
Entre uma infinidade de dimensões:
Dois pontos.


Não obstante ao acaso em que o destino é nulo
Gratificante senhora das lembranças.


A saudade, tal qual uma caixa de fotos em mofo
Metamorfose minha, insalubre ao oposto.
Leva diante dos olhos marejados
Lembranças inocentes
Momentos descabelados
E uma alma tão limpa quanto água alguma consiga ser


A saudade, tal qual o dia de ontem passou
Talvez assim também passe
Ou não, talvez o talvez nunca acabe
E enfim, eis que não tarde floresce
A incerta certeza de ser incompleto:
A saudade, tão grande quanto o mundo
Haverá de valer-se por ele.

Williany Souza

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

[SEM TÍTULO]

Afoga-te de pé em tua sombra
E dorme embriagado de si próprio,
Pois nada vale a vida a quem conta
O tic do relógio a toda hora

Ensina-se a ver sem ver as ondas
De mares grandes e marés baixas
Que vale o sopro a quem não conta
O tac do relógio a toda hora

Navega infinitas vezes nos olhares
Dos animais domesticados
Que não são e são bichos

Quem sabe então aquém precises disso:
De ver com as mãos
O que os olhos tocam.

Williany Souza

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

SONETO DESALINHADO

Entre o canto acanhado do silêncio
E a escancarada desavergonha do sorriso
Moro entre um espaço e outro
Não sou no inverno bicho


Velejo em poças nas ruas
De cidades e roças
Nas carroças pego carona
No outono: nas ondas de vento.


Sou o guizo desatento
Da aurora que rasga o relento
Dos meninos de Jorge amado, sou praia e verão.


Serei roupa discreta tal a fresta da privacidade muda
Sou muda de flor, espinho de rosa

Serei primavera amanhã e não agora.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

[Sem título]: Dor. "Fora da vista, fora da mente"

Delimito-me à necessidade
Em que contra vontade devo contar
Sobre o poder, a morte
A fome, a guerra e o prazer
Sobre o homem sem sorte
Que nem bússola, nem norte
E que ao menos deva entender
Que senhor armado manda
O senhor armado acaba a demanda
A demanda do pobre é a vida
A ideia estúpida de que o governo o sirva
Não se opor é manter a cabeça presa
À ilusão de que de que a liberdade o afeta
Que o corteja
Vá contra e assine em sua testa
Que o que resta é a luta e a honra
A sua luta, a honra deles
Mandem todos os aviões, carros e bombas
Acabem com quem de nós resta
Servimos à pátria e morremos por ela.
Williany Souza